Publicado em 05 de junho de 2019
Em tempos de um mercado tão competitivo e grandes mudanças sociais, inovar se tornou uma questão de sobrevivência. Ao mesmo tempo em que traz benefícios operacionais para as empresas, isso ajuda CEOs e gestores a colocarem os negócios no caminho da transformação digital. Nesse sentido, algo que vem ganhando espaço no ambiente corporativo é a inovação aberta.
O conceito promove avanços significativos em diferentes áreas, mudando a forma como os setores público e privado enxergam as práticas de pesquisa e desenvolvimento. No entanto, algumas dúvidas geralmente acompanham as discussões sobre o assunto. Afinal, você sabe exatamente o que significa adotar uma inovação aberta?
Criamos este artigo completo para esclarecer definitivamente o assunto. Nele você aprenderá a definição do conceito, sua origem, como ele funciona, por que é tão importante, quais são os benefícios, como vem sendo aplicado e de que formas pode ser aplicado.
Se você quer tirar suas dúvidas sobre inovação aberta, este post é para você. Confira!
O conceito de inovação aberta propõe que uma organização adote, de forma descentralizada, práticas de pesquisa e desenvolvimento. Isso significa utilizar ideias criadas tanto no ambiente interno quanto no externo, ou seja, dentro e fora da empresa. Nesse sentido, inovar deve ser compreendido como um processo de criação, renovação, restauração ou reestruturação de algo.
Atualmente, diversas organizações adotam ou planejam trabalhar com uma cultura inovadora. O objetivo é não só desenvolver os negócios e se adaptar ao mercado, mas encontrar novos caminhos para atuar. Isso envolve, por exemplo, criar produtos e serviços, renovar processos já comuns no mercado etc.
No entanto, o que o cenário das últimas décadas nos mostra é que a inovação, quando promovida de forma unilateral, pode ser mais custosa, lenta e limitada. No contexto atual, a perspectiva é de colaboração crescente entre empresas e organizações em geral — seja no setor público, seja no privado.
Não é à toa que novas metodologias, como a tomorrow lab, ganham cada vez mais espaço. São ferramentas que aceleram o desenvolvimento de novas ideias, sistematizando o processo de inovação. Ainda assim, os resultados podem ser ainda melhores se parcerias forem estabelecidas para que haja o compartilhamento do conhecimento.
É exatamente isso que a inovação aberta propõe. A fim de aperfeiçoarem o desenvolvimento de produtos e serviços, as empresas promovem um esforço conjunto para benefício mútuo.
Em outras palavras, em vez de trabalhar com um único departamento ou centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), as organizações compartilham seus recursos por meio de parcerias.
Os resultados, como mostraremos mais à frente, são extremamente positivos. Antes, porém, é importante compreender o contexto de surgimento dessa ideia e certas particularidades que a diferenciam de outras práticas.
O termo original em inglês, Open Innovation, foi proposto pelo Professor Henry Chesbrough, da Universidade de Berkeley, na Califórnia. Com uma experiência anterior no Vale do Silício — onde ocupava um cargo de gestão em uma empresa de tecnologia —, Chesbrough buscava aproximar as práticas adotadas pelas empresas e o conteúdo teórico da academia.
O fato que motivou seu trabalho foi sua percepção de que havia uma distância indesejada entre o mercado e os estudos dos especialistas. Embora o conhecimento fosse desenvolvido com rapidez e amplamente disseminado, os modelos de inovação adotados pelas empresas eram fechados, quase obsoletos.
Em geral, por mais que avanços importantes fossem alcançados em diferentes setores, tudo era (e ainda é) feito de uma forma muito individual e privativa: cada empresa busca seus próprios objetivos, trabalhando por conta própria, contando apenas com seus próprios recursos e guardando os resultados para si.
Trata-se do caminho oposto daquele adotado pela academia. Grosso modo, a maior parte do conhecimento produzido por universidades e outras instituições de pesquisa são acessíveis, compartilhados, de forma a colaborarem para o avanço conjunto de todas as áreas.
Nesse sentido, o que a Open Innovation propõe é olhar o setor de P&D de duas perspectivas diferentes, além da vertical (na qual o conhecimento gerado é aplicado no restante da empresa). Estamos falando de uma abordagem que pode ser também:
de fora para dentro, para que as tecnologias desenvolvidas por terceiros sejam assimiladas pela empresa, aperfeiçoando seus produtos, serviços e processos operacionais;
de dentro para fora, permitindo que idéias pouco utilizadas componham os processos de inovação de outras instituições.
Veja que, com isso, cada empresa passa a contar com recursos (humanos e tecnológicos) além daqueles à disposição internamente. Em outras palavras, duas ou mais organizações parceiras trocam informações que podem beneficiar ambas as partes, elevando a qualidade daquilo que oferecem.
Vale destacar que essa é uma demanda que surge do próprio mercado. A crescente valorização da gestão da qualidade, por exemplo, é um sinal claro de que a melhoria contínua deve fazer parte do mindset de qualquer empresa. Afinal, quem não evolui tende a se tornar obsoleto e perder espaço no setor em que atua. No entanto, é fundamental estabelecermos aqui uma característica importante da Open Innovation.
O conceito não deve, de forma alguma, ser confundido com a ideia de código aberto, ou mesmo inovação que parte do usuário e gestão da cadeia de suprimentos. No caso do código aberto, temos um conhecimento criado e oferecido à comunidade como um todo, para que qualquer um possa fazer uso dele, seja diretamente, seja por meio de alterações próprias.
No caso da inovação aberta, estamos lidando com parcerias estabelecidas por meio de um desenvolvimento mais amplo e cooperativo, porém submetido a certos controles. São adotados, por exemplo, contratos e parcerias que delimitam o campo de compartilhamento de ideias e conhecimento em geral.
Logo, a inovação aberta está diretamente ligada ao modelo de negócios adotado pela sua empresa. Caso seja adotada, ela deve representar uma estratégia para alcançar objetivos bem definidos e direcionados. Para entender o que isso implica, abordaremos agora seu funcionamento em mais detalhes.
Colocar o conceito em prática depende, em primeiro lugar, das características específicas da sua empresa. Sempre que uma colaboração desse tipo for proposta, é preciso pensar, por exemplo, em quais são os objetivos que você espera alcançar e de que forma a inovação aberta pode ajudar.
Partindo desse ponto, alguns princípios se colocam como pressupostos desse tipo de inovação. A organização que pretende implementar a ideia deve compreender, por exemplo, que nem todas as pessoas competentes que ela precisa estão no seu quadro de funcionários. Logo, é preciso trabalhar em parceria com quem está fora da empresa.
Outro ponto a ser destacado é que o valor gerado pelo parceiro ou P&D externo pode ser assimilado pelo P&D interno. Consequentemente, há uma valorização dos seus produtos e serviços. Além disso, a empresa não precisa necessariamente ter criado a pesquisa para se beneficiar dos frutos que eventualmente ela trouxe.
Para complementar, é importante adotar a mentalidade de que construir um modelo de negócio de sucesso pode ser mais eficiente do que ser o primeiro com a ideia no mercado. O investimento, quando feito sozinho sem colaboração, costuma ser caro. Logo, uma parceria pode promover o crescimento conjunto e planejado, reduzindo os riscos de uma grande aposta em uma solução revolucionária.
Ganha quem faz bom uso das ideias tidas dentro e fora da empresa. Isso significa que a propriedade intelectual (PI) pode ser compartilhada de forma estratégica. O objetivo é ter acesso também à PI de outras organizações e startups, adquirindo um conhecimento capaz de gerar valor para os negócios.
Tendo isso em vista, podemos observar mais de perto alguns modelos já adotados para analisar as diferenças de abordagem e os resultados de cada um.
O Corporate Venture é, resumidamente, uma prática de transferência de capital corporativo para iniciativas externas. Na prática, isso significa investir em startups relacionadas aos objetivos da sua empresa para que, a curto ou longo prazo, elas desenvolvam soluções que sejam do seu interesse.
Grandes empresas costumam adotar essa estratégia de forma bem ampla e nos mais variados setores. Trata-se de uma medida de incentivo a mercados que fortaleçam ainda mais a área de atuação da investidora.
Outra prática comum entre grandes organizações é o Working Space. Trata-se de uma abordagem mais específica, na qual a empresa oferece o espaço físico e a infraestrutura necessária para o trabalho de uma startup. Consequentemente, as inovações alcançadas também têm como objetivo direto ou indireto o benefício daquela organização.
A promoção de eventos é uma iniciativa mais pontual. Porém, ela tem um potencial de alcance extremamente promissor, desde que bem planejada. Reuniões, palestras, congressos e até mesmo hackathons são alguns exemplos dos mais comuns.
Nesses ambientes específicos, profissionais de diversas áreas se reúnem para compartilhar conhecimento e gerar insights importantes para as tomadas de decisão. Um ponto importante é que isso atrai também diversos empreendedores com ideias interessantes e prontos para assumir parcerias.
O hackathon, especificamente, tem sido um tipo de evento bastante adotado como forma de não só reunir essas pessoas, mas de promover o desenvolvimento de soluções inovadoras.
A cocriação é um dos modelos de inovação aberta mais dinâmicos e intensos no que diz respeito à colaboração. Nela a empresa se reúne diretamente com clientes, parceiros, fornecedores e outros agentes do mercado para promover um trabalho de desenvolvimento conjunto.
Sua adoção pode ser feita dentro da própria empresa ou por meio de outros mecanismos de comunicação e troca de informações em geral. No entanto, estamos falando de, literalmente, colocar pessoas de diferentes organizações para trabalharem juntas em um projeto.
Mais comum no mercado do desenvolvimento de softwares e tecnologia em geral, as APIs abertas são um meio de compartilhar códigos ou aplicações para uso livre. Isso significa que outras empresas podem integrar sua tecnologia às suas soluções.
Consequentemente, é gerado um ecossistema de códigos abertos no qual as empresas podem realizar ajustes e adequações nas aplicações. A ideia é promover a inovação aberta, porém de forma ampliada e mais livre.
Um dos principais benefícios desse modelo é a integração entre soluções. Com o código de uma aplicação sua à disposição, outras instituições podem fazer uso dela em vez de desenvolverem as próprias tecnologias. Consequentemente, seu sistema é valorizado, ganhando mais usuários e visibilidade no mercado.
Em geral, cada uma dessas estratégias deve ser avaliada com base nas demandas específicas da sua empresa. É preciso destacar, no entanto, que nem toda pesquisa é proposta e desenvolvida visando o lucro. Muitas vezes, a inovação traz outros tipos de vantagem, como a valorização da marca e o maior alcance dos seus produtos, algo que nem sempre se reflete diretamente no caixa.
Ainda assim, como você pode ver, são mudanças extremamente positivas. Para ajudar você a entender o tamanho desse impacto nos negócios, falaremos agora sobre quem se beneficia e como isso acontece.
Um dos pontos de destaque da inovação aberta é que ela permite que a empresa abra os olhos para outras perspectivas de trabalho, saindo da sua zona de conforto. Muitas vezes, esse é um grande obstáculo para quem busca desenvolver soluções diferentes. Afinal, de uma forma ou de outra, estamos todos inseridos na cultura organizacional do local no qual trabalhamos.
O diálogo e o trabalho cooperativo, nesse sentido, podem ser transformados em benefícios para empresas de qualquer setor. A exceção podem ser as pequenas empresas, já que elas não contam com infraestrutura e recursos à disposição para buscar grandes inovações, sendo mais viável a adoção de modelos de trabalho já consolidados no mercado.
Entretanto, até mesmo nesse ponto é preciso ter cautela. A transformação digital nos mostra que o uso de novas tecnologias pode trazer inovações surpreendentes, independentemente do tamanho do negócio. Por isso, é cada vez menos raro que ideias disruptivas surjam de startups e que essas empresas cresçam aceleradamente em um mercado.
Por isso, é interessante olhar mais a fundo para os benefícios específicos que a inovação aberta pode trazer. Para começar, é claro, temos que analisar o impacto financeiro dessa estratégia.
Tanto do ponto de vista da sustentação de uma pesquisa quanto dos processos operacionais, inovar de forma cooperativa gera reduções de custo significativas. Ao mesmo tempo em que sua empresa aproveita os recursos e o know how dos parceiros, os resultados alcançados podem otimizar as atividades do dia a dia, tornando-as menos custosas.
Isso gera um impacto secundário diretamente nos produtos e serviços oferecidos.
Com menos gastos redundantes — ou seja, quando duas empresas investem separadamente em pesquisas similares — há um aproveitamento melhor dos recursos financeiros. O esforço tende a ser traduzido em maior rentabilidade para os negócios.
De um lado, os produtos e serviços ganham valor agregado e têm seus processos produtivos otimizados, com custos menores. De outro, os próprios frutos das pesquisas podem fortalecer as relações comerciais da empresa, modificando o modelo de negócio para algo ainda mais rentável.
Em um mercado tão acirrado, não basta oferecer qualidade e preço acessível para ganhar seu espaço. A inovação é fundamental justamente devido à sua capacidade disruptiva de romper paradigmas e abrir novos caminhos para as empresas.
Quando falamos que nem todo projeto deve buscar necessariamente o lucro, estamos assimilando a ideia de que a pesquisa científica traz frutos inesperados. Trata-se de um mecanismo gerador de vantagem competitiva, pois é capaz de propor formas de trabalhar que nenhuma outra empresa oferece.
A Rolls Royce, por exemplo, alcançou um nível de inovação tecnológica no desenvolvimento de motores para aeronaves que vem revolucionando o setor. Ao combinar Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT) e Data Science, a empresa passou a ter um controle tão excepcional do desempenho dos produtos que os transformou em serviços.
Como? Na verdade, é mais simples do que parece. Com tamanha capacidade de monitoramento e previsão de falhas, a empresa passou a vender horas de voo. Isso significa que ela se programa para substituir motores por novos ou trocá-los durante as fases de manutenção.
Na indústria como um todo, isso não seria possível sem a inovação tecnológica vinda de fora da empresa, principalmente em relação à combinação de IoT e IA.
Cooperar é parte da essência da inovação aberta. Além de reduzir custos, criar novas fontes de receita rapidamente e aumentar o seu diferencial competitivo, a prática fortalece a participação da empresa no mercado.
A valorização da marca é hoje quase tão importante quanto ter dinheiro em caixa, pois isso interfere diretamente na capacidade da empresa de levantar investimentos. Logo, é comum ver grandes corporações estabelecendo parcerias que agreguem à sua imagem uma cultura inovadora, sustentável, de responsabilidade social etc.
É essa uma das razões pelas quais a inovação aberta ganha tanto espaço. A cooperação se tornou uma tendência e, com isso, toda empresa que busca conquistar sua parcela do mercado deve considerar de que forma ela pode se beneficiar dessa ideia.
Pensando nos primeiros passos, algumas estratégias costumam ter preferência devido ao retorno mais rápido que promovem. Mostraremos agora quais são elas.
A cocriação, como explicamos, ocorre quando a empresa traz seus parceiros para trabalharem no projeto de pesquisa. O crowdsourcing, por sua vez, é uma estratégia pela qual a organização acessa serviços, conteúdos e ideias em geral por meio de grupos variados, geralmente via internet.
Uma prática comum, por exemplo, é a criação de desafios online, no mesmo estilo dos propostos nos hackathons, para que usuários desenvolvam soluções para um problema. Os resultados são então analisados para que sejam gerados insights relevantes. O objetivo é utilizá-los para o desenvolvimento de produtos e serviços, ampliando o portfólio, ou mesmo para melhorar processos.
Os desafios são remunerados, o que representa um grande incentivo para os participantes. Além disso, é importante destacar seu papel na identificação de novos talentos que possam vir a fazer parte da equipe de desenvolvimento da empresa.
A diferença da cocriação é que, nesse modelo, os cocriadores dividem o mérito e os frutos do projeto de pesquisa. No caso do crowsourcing a empresa propõe a iniciativa, investindo no evento e tirando proveito das soluções.
Os participantes, por sua vez, entram em contato com demandas atuais do mercado, exercitam suas habilidades, fortalecem as conexões com as empresas e, é claro, podem ser premiados em dinheiro.
Empresas que buscam dar os primeiros passos devem ter em mente que o objetivo inicial é encontrar formas mais eficazes de tirar proveito da sua propriedade intelectual. Por isso, comece identificando as principais demandas da empresa e possíveis pontos de melhoria.
Se há uma ferramenta (software), um produto ou serviço a ser melhorado, por exemplo, elabore um projeto de hackathon e promova o evento. Essa é uma primeira experiência interessante, pois tende a gerar uma série de insights valiosas que levarão a empresa a um segundo estágio: colocar as ideias em prática.
Um ponto crucial do processo de inovação é saber inserir os frutos da pesquisa no dia a dia da empresa. Feito isso, a própria equipe terá uma base sobre a qual trabalhar nas parcerias futuras. Chega a hora, então, de dar um passo adiante.
Eventos próprios ou parcerias com startups são um grande canal de inovação aberta entre grandes empresas e startups. O próprio hackathon pode ser aproveitado para fortalecer as relações com essas outras instituições e levar o diálogo para uma segunda fase.
A partir desse ponto, sua empresa já pode pensar em projetos mais direcionados, trazendo clientes e fornecedores para participar. Metodologias de desenvolvimento ágil, por exemplo, já trabalham com a ideia de integrar os clientes ou usuários no processo de criação para melhorar continuamente o produto.
A ideia aqui é levar essa relação para um novo patamar. O cliente não precisa necessariamente integrar a equipe de desenvolvimento, mas sua participação é fundamental para identificar as melhorias mais relevantes para o projeto.
Como você pode ver, são mudanças que devem partir da mentalidade da empresa para se transformarem em parte da sua cultura institucional. A tendência é que os projetos se fortaleçam ainda mais com o passar do tempo e sejam ampliados, beneficiando todos os envolvidos.
Leve a inovação aberta para as discussões com a direção da empresa e explique o quão significativo é o impacto que ela pode trazer. Assim, pesquisa e desenvolvimento passam a trabalhar a seu favor, gerando valor para os negócios e fortalecendo a sua marca.
Agora que você entende melhor o conceito de inovação aberta, compartilhe o post nas redes sociais e veja o que seus colegas pensam sobre o tema!