Publicado em 02 de junho de 2021
Com o advento da Computação em Nuvem, que se deu no início dos anos 2000, estamos vivendo uma era de digitalização nunca vista antes. Atividades que eram realizadas manualmente já podem ser automatizadas e podem até mesmo contar com o uso de inteligência computacional, garantindo maiores níveis de eficiência e produtividade. Além disso, a Computação em Nuvem permitiu que novos tipos de aplicações e serviços pudessem ser criadas, criando um ambiente propício à Inovação.
Com o passar dos anos, a sociedade tem se acostumado cada vez mais com o uso de serviços digitais. Hoje em dia, por exemplo, já não precisamos ir a uma agência bancária para realizar uma transação financeira, assim como não precisamos ir fisicamente a uma loja para comprar algum produto de nosso interesse. Inclusive, impulsionados pela realidade virtual e realidade aumentada, podemos até mesmo trazer a loja até nossas casas. Esse é um relato muito comum com lojas de roupas, por exemplo, onde podemos provar peças de roupas através dessas tecnologias.
Situações como essas são possíveis somente por conta da Computação em Nuvem, que permite que serviços de computação sejam executados em um grande data center localizado em algum lugar do mundo. Ou seja, quando temos uma aplicação que faz o uso de recursos em nuvem, nossos dados precisam trafegar pela Internet até chegar no data center que efetivamente processa as informações e as devolve aos usuários. Esse modelo funciona de forma excepcionalmente eficiente, embora possua algumas limitações que inibem certos tipos de aplicações de serem executadas na Nuvem. A latência (o tempo decorrido entre o envio e a recepção de uma informação) percebida pelos usuários de serviços em nuvem tende a ser da ordem de 100 milissegundos em alguns casos. Parece pouco, mas algumas aplicações como, por exemplo, a Internet Tátil, que permitiria, dentre outras coisas, a execução de procedimentos médicos à distância, requerem latências inferiores a 10 milissegundos.
Com a implantação das primeiras redes comerciais 5G iniciando em 2020 e 2021, usuários agora passam a ter a possibilidade de acessar a rede em latências extremamente baixas, na ordem de 1 milissegundo. Entretanto, quando consideramos a latência de redes móveis, muitas vezes nos referimos à latência entre o dispositivo móvel e às estações rádio base (popularmente chamadas de antenas de telefonia). Seguindo nessa linha, a baixíssima latência proporcionada pelo 5G na comunicação entre dispositivos e antenas não seria de grande valor se as aplicações e serviços ainda continuam em execução na nuvem, justamente porque ainda seria necessário que os dados percorrem longas distâncias até chegarem ao data center de algum provedor de nuvem. Por esta razão, um novo conceito vem surgindo nos últimos anos, que é a Computação em Borda.
A Computação em Borda, ou Edge Computing, é um paradigma que vem para complementar o modelo da Computação em Nuvem. Aqui, ao invés de processar os dados em um data center relativamente distante dos usuários, o objetivo é processá-los em servidores próximos aos usuários, ou seja, próximo de onde os dados são gerados e consumidos. Dessa forma, os dados percorrem distâncias curtas, o que reduz drasticamente a latência para poucos milissegundos. Por esta razão, a Computação em Borda é um fator crucial para a utilização efetiva das redes 5G que serão implantadas nos próximos anos ao longo do Brasil e do mundo, visto que para usufruir da experiência completa da rede é necessário fazer o uso de recursos computacionais próximos dos usuários.
A adoção da Computação em Borda deve crescer ano a ano, muito impulsionado pelas oportunidades que serão fomentadas pelo 5G. Segundo o Gartner, a previsão é que até 2022 cerca de 50% dos dados empresariais sejam produzidos fora do data center. Ou seja, há uma tendência na descentralização dos dados e, consequentemente, no processamento desses dados, aumentando cada vez mais a necessidade por Computação em Borda. Essa descentralização acontece visto que se há o uso intenso da borda, então será necessário que cada localização geográfica possua infraestrutura para lidar com as demandas locais de computação em borda, o que gera impactos positivos até mesmo na capacidade da Internet como um todo. Considerando que os dados são processados próximos dos usuários, isso significaria que esses mesmos dados não precisam sequer trafegar pela Internet, o que diminui o nível de congestionamento a nível global, gerando impactos positivos a todos os envolvidos e nos usuários finais.
Embora a Computação em Borda, aliada ao 5G, venha a desencadear uma série de oportunidades nos próximos anos, alguns desafios ainda precisam ser superados para que façamos o uso eficiente da infraestrutura subjacente à borda. No contexto da nuvem, desenvolvedores podem partir do pressuposto de que os recursos de computação, armazenamento e rede são virtualmente ilimitados, além de existirem SLAs (Service Level Agreement), que permitem garantias operacionais que simplificam o desenvolvimento de aplicações para a nuvem. Diferentemente, a Computação em Borda trabalha com recursos descentralizados, heterogêneos e, muitas vezes, suscetíveis às intempéries inerentes a cada localização geográfica em que servidores de borda estão instalados. Como a borda é um paradigma muito mais recente que a nuvem, os desafios ainda precisam ser superados. O grande objetivo, no final, é que tenhamos o poder da Computação em Nuvem trabalhando em conjunto, de forma integrada e transparente com a Computação em Borda, permitindo a entrega de valor através de soluções inovadoras aos usuários finais.
Aqui no Instituto Atlântico, por meio da Plataforma de Redes e Sistemas Distribuídos, estamos trabalhando com um time formado por pessoas que estão definindo o futuro da Computação em Borda, por meio de pesquisas científicas e desenvolvimento de provas de conceito, que permitem ao Atlântico se posicionar como especialista na área. Nossa estratégia é de antecipar o futuro, e com a Computação e Borda e o 5G não é diferente.